sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tarde de Junho

I

No labor de outro dia,
eu te encontro, tarde de junho,
te contemplo e te indago,
o que me trazes
de novo ou de antigo,
de iniciado ou de findo,
a mim,
que, incauto, te espreita?

A mim,
a quem nem tanto importa
teu sujeito e objeto,
teu melhor argumento
e tua tônica severa
com que enleias
amadores

mas sim, tua substância,
tua carne e crepúsculo,
prenúncio da noite,
em que homens se encontram,
se refugiam em copos
e matam
o que neles quer morte.

Tarde de junho,
tu que espias
a aurora selvagem,
suas cores perscruta
e em brancas nuvens se esvai.


II

Em algum ponto
da estrada,
eu ergo os olhos
e ouço
o vento e um grito
surdo
que na água
algum dia darei.

Metade de mim
te contempla,
teu véu rude e negro,
sem encanto aparente
ou marca de sedução,
um véu andarilho
que a tudo encobre,
entre presa e algoz.

Tarde de junho,
eu te alardeio
e tu vagas alheia
ao que sobre ti cai.