segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sólidas Manhãs

Sólidas manhãs
vão se quebrando
sem incenso, sem meu rito,
tal qual as recebi.

Serei capaz de
tornar estas manhãs em
sólidas, sóbrias e fortes,
manhãs plenas e serenas.

Adeus à sombra
do quarto de dormir,
restam-me dois tostões
que ninguém irá pedir.

Quando me levantar,
minha armadura romperá a manhã,
a manhã de hoje.

Asfalto

asfalto na curva

de um trecho
perdido

em que ruas
se abrem.


piche, terra,
plantas ...

cimento.

Níveis,

desníveis,


ferro, _______ ,


buracos.


seres...

vivos.

seres...

humanos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Jornal do Dia

Minha lupa fura a folha,
minha retina descortina
a lente de aumento;
isento, estou dentro.

O sol se me bate, concentra
os feixes num ponto branco
que traga a luz e faz surgir
fagulha e fogo.

Minha lupa concentra o mundo.
Fura a folha, o fogo, a relva,
e me repõe, menino, na terra,
entre o mar, o céu e o sol.

Leitores, autores, senhores,
sou eu, seu criado, quem pede: 
sede puros, prontos, permeáveis;
eis que vedes que o dia se aproxima.

Próprio Impreciso

È preciso divisar
as coisa boas (que vão)
acontecendo;
é impróprio, impreciso, não reconhecê-
las.

Mas é tão próprio do ser humano
agir assim...
feito esta prosa em forma de verso
que eu fiz pra mim mesmo,
pra mim, pra mim.

Contenção

Nebulosa fraga,
a sombra que se encerra
em março, em março,
não em abril.

Queria poder dizer,
de todos os desejos contidos,
de todos os percalços, a vida
pungente, prensada
de encontro à parede.

Mas se eu te dissesse, amigo,
ah, se eu dissesse
(a razão, o motivo),
você com certeza não entenderia tão bem.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Elogio ao Mascate

O homem deve trabalhar
Num ofício digno e honesto.

Pode ser divulgador
Da dor dos outros
Ou da própria, independe.

Que tal ser um contador
Do bolso próprio
Ou do alheio.

Ou talvez um alfaiate,
Contar ao menos com amor,
E quem jamais irá supor
Que no verão ele é mascate.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Haicai

Noite: mar azul;
na imensidão do mar, 
o hímen se dar.

As Quatro Estações

À memória de Oswald de Andrade

Arranco as flores,
qeimo a mata
e solto as "girls" pra dar um cata.

Branco, branco, branco,
o meu verão é branco;
como será a neve?

Largue mãe, a mão, carícia,
o tempo mau, a má notícia
e todos os vivos sob o sol.

Ventania, a praia fria,
a onda gelada
derruba a doida, a pelada.

Simplicidade

‘Welcome to the Hotel California...’

(Dinheiro).

À vista dum outeiro,

há juazeiros genuínos

e palmeiras ancestrais.


No último hotel,

de onde os vôos não são turísticos

tem grana no chip

feito táxi em outros dísticos.


Mas Habacuque,

cadê Naum?

passou aqui...

país nenhum!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Neste Dia

Neste dia, vem a tristeza,
meiga senhora, me visitar.
Vem me dizendo que sente muito,
mas já não pode me acompanhar.

Eu vou sair por aí
de braços com a felicidade,
pois a tristeza foi-se embora
e não deixou saudade.

Paulo Som e Bayas, 2001/2002

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

23 de Outubro de 2009

Hoje minha irmã faria trinta e cinco anos

Hoje não falarei de política

Hoje não fingirei entender

Do que aconteceu, acontece ou acontecerá

Deitar-me-ei, à moda dos desvalidos

Despido do que no homem são rédeas

Sem língua e, mesmo, sem expressão

Apenas formas, formas claras e sadias,

Formas simples e serenas

Como ela gostaria.

Casa Antiga

Eu aqui vou caducando
no meu velho observatório,
fausto, vivo e tão inglório
quão certeiro, sigo andando.

Pelo interior da casa,
passos lentos ao comando,
dois leões no meu terraço
e eu prossigo pelejando.

Entre os móveis e o metal,
cavalo solto galopando,
o que vem me importando
é o que é essencial.

Meu exílio voluntário
tem razão de ser e quando
me achares perdulário,
lembres-te que sigo andando.
Era larga a entrada

Que conduzia ao teatro.

Seus corredores eram amplos

E verticais .


O público acedia em grande número

Para a única apresentação da noite.


O que é o mais importante num casamento?
O diálogo? A lealdade? Tudo isto e mais um
pouco?