sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Martelo

Toc, toc, toc...

O martelo tem seu tempo
de parar e de bater;
martelo disparate,
bate pau até doer.

Rima Barata

Nas ruas por onde eu ando,
trafegam ambulâncias, sirenes,
viaturas da ordem, comando
de Neivas, Marias, Irenes.

Árvores, casas, igrejas,
alcovas, casais se amando,
torres, asfalto, concreto,
nas ruas por onde eu ando.

Balaios, mulatas, navios,
meu peito, meus braços remando
à sombra dos ventos bravios,
nas ruas por onde eu ando.

A Alemanha
São as florestas
E as montanhas do Spessart
São as praças de Munique no verão
São os vales do Reno com suas videiras
É Colônia e sua imensa catedral
São os castelos e os lagos com seus cisnes
É Berlim com suas aleias e seus parques
É a Filarmônica e suas muralhas de som.

A Alemanha
São as rodovias de seis pistas em cada sentido
É o Estado de Direito em seu tom mais puro
São as mulheres e as crianças brincando ao sol
É Frankfurt com seu aeroporto e seus bancos
É o sol sobre os prados no verão
É o mar do leste e o do norte no outono
É a vizinha de botas e jardineira
São as tortas com café à tarde às cinco.

A Alemanha é tudo que outrora eu fui
É aquilo que eu vi e eu tento ser,
É aquele lado chato de saber,
Mesmo viajando de carro,
A que horas se vai sair e se vai chegar.
A Alemanha é um país
Em que vale mais a pena viver.

Fábula da Rua e do Jardim

Gazelas rúbeas, aonde ides
Tão ornadas, mais que belas
Despertar mares e marujos
Melhor seria deixa-los quietos
No convés de um barco escuro
Do que a eles vos unirdes

Ó brônzeas virgens de antanho
Coração grande, sem tamanho
Ó feridas falsas carmelitas
E agora sempre-negras-ditas
Ó cálidas mulatas
Das primeiras serenatas
Do remanso das regatas
Ó puras naus ventriculares
Zombeteiras nos olhares
Estais ausentes, alteradas
Ó meninas mais manchadas

Hoje eu quero alimentar-vos
Entreter e cortejar-vos
Como pássaros à aurora
Como hei de perscrutar-vos
Embeber e embalsamar-vos
Entre pétalas lilases
Negras flores dos oásis
Assim mesmo irei furtar-vos
E entre feixes derramar-vos
No rosa-lácteo tom da hora

Avançando em vã revolta
Estais perdidas, quão rendidas
Longe vai a vossa escolta
Sois agora violáceas
Da floresta, presas fáceis
Seus vestidos, branca renda
Sua carne cor de amêndoa
São rasgados por espinhos
Ó quão poucos os caminhos
Que a manhã ousou deixar-vos
Mortais fendas do calvário