sábado, 3 de janeiro de 2015

Algum Silêncio

Veja o silêncio depois do som,
a pausa entre notas musicais,
o silêncio recheado do canto das aves,
o silêncio das mulheres no Brasil, no Japão,
na África, em Londres,
no Afeganistão.

Às vezes, fico sem pernas,
mas essa pureza...
é daí que vem meu afeto,
meu carinho desmesurado,
seja qual for a sua opção.

O silêncio merece o carinho das folhas,
das árvores, vento, sol e cadeira.
O silêncio merece respeito e tristura.
O silêncio do ator no palco vazio:
um homem só, mesmo
entre todo o elenco;
o silêncio entre falas, entre momentos
de calar a plateia.

O silêncio da torcida diante do gol,
o silêncio mais óbvio e desajeitado,
a boca pequena que fala de lado,
o silêncio do artista diante do fato.
E dele extrair risos, quimeras,
volúpia e anseios, mansidão.

O silêncio abundante
no ventre da Vênus,
o silêncio das tardes
em colos morenos,
o paraíso perdido
de Paul Gauguin
e o lume leitoso
desta manhã.