Sacrifício

Pés que trilham os caminhos de agora,
São como pés que já andaram sobre as águas
- certo dia - sob a mirada da lua.

Todos eles se projetam sobre a sombra
de uma luz passada -
sua procura por descanso e paz.

Sophia de Mello Breyner Andressen

Às Musas

Nas Fontes onde nascem as águas,
Mal se sabe o que serão.
Formarão oceanos e mares:
-pele lambida pelo velejador-?

Entregar-se-ão aos encantos do sol;
e às fontes virgens retornarão?

Aguarão pés-cansados?
Vida nova à plantação?

Nas fontes onde nascem os sentimentos,
Mal se sabe o que serão.

Formarão oceanos e mares:
-pele lambida pelo velejador-?

No deserto do esquecimento secarão?

Ou da amizade, rio perene, para sempre viverão:

Consumidor

Beijos sonhados não se escreve
Beijos sonhados... só se sente
Um aguilhão ferindo entre ossos
Na mais dorida impossibilidade
Dum natal florido em Black or White.

28-11-2009

Nublado

Nuvem caminhante

faz-me triste e alegre

- sorrir ou chorar –

reflete o céu

ou

o esconde do mar?

Encobre-nos a lua

Adoça mais meu penar

que é apenas olhar e sentir

- e mais tristemente pensar.

Se bailas ao vento silente

[solitário e ébrio – mas sabe cantar!]

Nuvem, entrega a ele

Tua vida tão frágil e anular

E eu que não canto nem bailo

Apenas te olho,

vejo

e ouço

- a dança e o cantar –

Invejo e sonho:

Com a lua morar

Com a ti, nuvem, trair

Com o vento fugaz voar

E no sonho que me sonha alguém

À leitura desses sons e leivos

Fica entre o real e as nuvens

[algodoadas]

Como meu frugal travesseiro.