quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Nublado

Nuvem caminhante
faz-me triste e alegre
- sorrir ou chorar –
reflete o céu
ou
o esconde do mar?


Encobre-nos a lua
Adoça mais meu penar
que é apenas olhar e sentir
- e mais tristemente pensar.

Se bailas ao vento silente
[solitário e ébrio – mas sabe cantar!]

Nuvem, entrega a ele
Tua vida tão frágil e anular

E eu que não canto nem bailo
Apenas te olho,
vejo
e ouço
- a dança e o cantar –
Invejo e sonho:

Com a lua morar
Com a ti, nuvem, trair
Com o vento fugaz voar

E no sonho que me sonha alguém
À leitura desses sons e leivos
Fica entre o real e as nuvens
[algodoadas]
Como meu frugal travesseiro.

6 comentários:

bayas disse...

quão raro momento de nuvem
nestas paragens risonhas, rurais,
litorâneas, insônias
lua nuvem, nuvem, nuvem
vento sem som rente ao mar
de prata o espelho da lua
dança puro e belo no ar
calma, calma e certeza,
toa uma vida, teorias,encantos,
toda uma corrente do pensar,
deitada ao chão pela lua
sem reflexo, sem sobra, sem rito,
a nuvem tão rara e repente
é d'água, vento e ar.
Dsfaça-te ó nuvem, descubra, a beleza que teu manto oculta
desfaça te ó nuvem pois o solista
precisa de estrelas, precisa de lua e luar.

bayas disse...

Acho melhor fazer amor como o céu nublado do que com o céu estrelado e enluarado. Como notou o poeta, o amor no claro, não no escuro, é triste...

bayas disse...

Este poema me lembra algo de Manuel Bandeira. Sua construção alegórica em torno de um eixo simétrico me lembra o trabalho do poeta brasileiro.

bayas disse...

A descrição, neste poema, é bastante clara, embora trate de momento nublado. Podemos acompanhar os movimentos, a evolução do sentir e do pensar num progresso lógico. Existe técnica, por um lado, e, por outro, o conteúdo é aprazível, é denso, é lírico profundo. Não. Não é um poema banal.

pedro mota disse...

Sempre tenho dúvida sobre os meus escritos. O momento em que o poemas nasce é como um sólido que é espelido rompendo a carne num momento de constrição. Mas há outro momento, o de partilhar o escrito. Mas... Por que fazê-lo?

É ai que mora toda a incerteza... Por vezes motriz de outro escrito. Por isso nem sempre preterida.

E por isso fico mais grato ainda por suas palavras...
Abaços caro colega de palavras "que bailam ao vento".

pedro mota disse...

Feliz, mesmo, por se tratar das palavras-de-fogo do poeta que escreveu: "...Deitar-me-ei, à moda dos desvalidos

Despido dos vãos disfarces do homem

Sem língua e, mesmo, sem expressão

Apenas formas, formas claras e sadias,

Formas simples e serenas

Como ela gostaria. ..."

Simples: Liç~pes de poemas...