Eu aqui estou em casa,
neste pouco e mero chão,
os pedaços e as pessoas,
já lavei da minha mão.
Já provei tanger mulheres
e ora quis ser rei no vão,
hoje guardo bem-me-queres
longe do meu coração.
Sou repulsa, sou errante,
sou corcel na contramão,
e, sentado, leso, esquivo,
odeio tudo como o cão.
Onde estás, João Infante?
Onde estás, Sebastião?
Quero ver o teu semblante
ao explodir o avião.
Quero ter contigo um trato
imortal e sem perdão:
que sejas sempre luz em vida
e que, no mais, não sejas não;
que arremedes pelo fio
e subas amplo na calçada,
e enquanto houver estio,
estejas sempre na estrada
para que, de outros reinos,
tragam, carros e cavalos,
a entreter-te, errante rei,
outros reis e seus vassalos;
e que estejas sempre vivo
pra que não se acomodem,
quantos mandes ao inferno,
eis que até os reis explodem;
e que morras, sempre, em vida,
mas que não te toque a morte,
pois o ódio é teu destino,
o desamor e a pouca sorte.