sexta-feira, 24 de abril de 2015

Fábula da Rua e do Jardim

Gazelas rúbeas, aonde ides
Tão ornadas, mais que belas
Despertar mares e marujos
Melhor seria deixa-los quietos
No convés de um barco escuro
Do que a eles vos unirdes

Ó brônzeas virgens de antanho
Coração grande, sem tamanho
Ó feridas falsas carmelitas
E agora sempre-negras-ditas
Ó cálidas mulatas
Das primeiras serenatas
Do remanso das regatas
Ó puras naus ventriculares
Zombeteiras nos olhares
Estais ausentes, alteradas
Ó meninas mais manchadas

Hoje eu quero alimentar-vos
Entreter e cortejar-vos
Como pássaros à aurora
Como hei de perscrutar-vos
Embeber e embalsamar-vos
Entre pétalas lilases
Negras flores dos oásis
Assim mesmo irei furtar-vos
E entre feixes derramar-vos
No rosa-lácteo tom da hora

Avançando em vã revolta
Estais perdidas, quão rendidas
Longe vai a vossa escolta
Sois agora violáceas
Da floresta, presas fáceis
Seus vestidos, branca renda
Sua carne cor de amêndoa
São rasgados por espinhos
Ó quão poucos os caminhos
Que a manhã ousou deixar-vos
Mortais fendas do calvário

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